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Design e Inteligência Artificial: possibilidades e desafios

  • Foto do escritor: Lúcia Dias
    Lúcia Dias
  • 16 de abr.
  • 5 min de leitura

Por Lúcia Dias

Coluna: Design e Ciência


Discutir o tema de Inteligência Artificial (IA) tornou-se habitual nos tempos atuais. Sabemos que a IA vem apresentando um impacto significativo em diversas áreas de pesquisa e trabalho. Quer na Medicina, Finanças, Logística, Educação, Comunicação e no Design, nossa área de atuação. Vivemos em uma sociedade em que a hiperconectividade (LEITE, 2022) é a base para o fluxo ininterrupto de ideias, ações e representações entre pessoas conectadas por laços de um hiperespetáculo (MACHADO, 2007). A sociedade da cibercultura (LEVY, 2010) admite evoluções tecnológicas que carregam uma velocidade frenética. Os números reunidos por We Are Social e Meltwater (https://datareportal.com/reports/digital-2024-brazil?rq=Brazil) indicam que o Brasil tem 187,9 milhões de internautas em 2024. Isso representa 86,6% da população total do País. Inclusive, o percentual é mais alto que a média sul-americana, de 82,5%.


Castells (2010) compreende as tecnologias da informação como a base material das transformações sociais, políticas e econômicas pelas quais a sociedade vem passando nas últimas décadas. Segundo Lorenz e Franzato (2018), a hegemonia da velocidade conversa com a valorização da informação, em que a rapidez das ciências e das técnicas se reflete tanto na grande quantidade de informações produzidas quanto na maneira como essas informações são captadas, armazenadas, analisadas e, posteriormente, reutilizadas.


Tudo é rápido, fugaz, transcendente, modificável. Assim vem acontecendo com o campo de Design Gráfico, sob as influências tecnológicas e atualmente com a ingerência da IA. Mas por que no Design, a Inteligência Artificial tem despertado tantos debates e controvérsias?


Podemos entender a IA como um programa “buscador”, procurando na rede por informações similares ao que lhe foi requisitado e reescrevendo essas informações para originar uma “nova” matriz, que no caso do Design Gráfico pode ser representada por uma imagem ou fotografia. Por exemplo, ao solicitarmos uma casa de fazenda a IA, inicia-se uma busca por informações similares a nossa solicitação. Os resultados que serão apresentados partem das associações com os termos inicialmente informados.


Esse mecanismo é extremamente atrativo em um mundo que se baseia na velocidade de informações. Com o discutido CHAT GPT conseguimos produzir em milésimos de segundos textos gerados a partir da pesquisa das informações em toda a cadeia WEB.


O maior empecilho a IA e ao seu afloramento no Design está relacionado às questões éticas, porque as imagens ou informações originais retiradas da internet pertencem a alguém e foram utilizadas sem autorização. Isso se traduz em um problema descomunal porque, de forma ética, todos os programas de IA deveriam pagar por cada imagem utilizada para gerar suas próprias imagens, mas tal como a própria Open IA (fundadora do CHatGPT) afirmou: “é impossível pagar direitos autorais para o mundo todo” (https://exame.com/inteligencia-artificial/e-impossivel-criar-ferramentas-de-ia-como-chatgpt-sem-violar-direitos-autorais-diz-openai/).


E o problema se aprofunda mais: se por um lado as imagens originais utilizadas pela IA tem direito autoral, as imagens geradas pela |IA não têm, justamente por não se tratarem de criação humana e por utilizar imagens de outros autores sem autorização. Em termos práticos, isso significa que se você criar um anúncio para um grande cliente usando IA para criar uma imagem, esse cliente pode ser processado por ter utilizado imagens de outras pessoas, mas a imagem criada para ele pela IA pode ser usada por todo mundo, porque não tem direito autoral. Ou seja, a fonte das imagens é exclusiva, mas o resultado da IA não é. Por conta desse fato, os grandes clientes estão solicitando em contrato que as agências de publicidade e estúdios de Design não utilizam IA em suas peças, sob o risco de processo na área de Direitos Autorais.


Portanto, o que parece positivo e facilitador nos processos de Design, está tomando um rumo contraditório. Neste sentido, concursos na área de Design Gráfico tem assumido posturas que garantam a Ética e os Direitos Autorais, não aceitando trabalhos de Design produzidos com IA. Foi o caso da Bienal Brasileira de Design Gráfico na Edição que ocorreu em dezembro de 2024 em Aracaju, Sergipe.


Para concluir, lembremo-nos que a Inteligência Artificial (IA) surgiu na década de 1950 como uma área de estudo que buscava entender se a máquina seria capaz de imitar a cognição humana. “Podem as máquinas pensar? (TURING, 1950, p.7 )” Foi com esse questionamento em um artigo científico que o matemático Alan Turing inaugurou uma área da Ciência da Computação que se ocupou com pesquisas sobre técnicas, mecanismos e dispositivos que poderiam copiar maneiras como aprendemos e resolvemos questões. A história da IA foi preenchida com momentos de expectativas e de esquecimentos, com idas e vindas do interesse da comunidade acadêmica e financiamentos em pesquisas. Muitas empresas que hoje lideram pesquisas e serviços na área de IA, como Google, Facebook e Amazon, não foram criadas com o objetivo de desenvolver tecnologias para essa área, mas hoje destacam-se com posição privilegiada oferecendo diferenciados tipos de serviço de IA, entre eles tradução, comando por voz e reconhecimento facial.




Acredito que as evoluções tecnológicas devam ser encaradas como benéficas, sempre de forma relativizada. Precisamos entender que nós, designers, temos como principal ferramenta para o trabalho a criatividade, que nos presenteia com ideias variadas para nossos projetos. Sabemos que dentro do processo criativo nos alimentamos de referências em livros, filmes, novelas, obras de Arte, entre outras fontes.


Portanto, devemos ser criteriosos quando pensarmos em utilizar a IA. O equilíbrio e as questões éticas devem ser o alicerce para o profissional que atua na área de Design.


Referências e materiais consultados


CASTELLS, M. A Sociedade em Rede. São Paulo: Paz & Terra, 2010.

LEITE, Pedro C. B. Hiperconectividade e Exaustão. Jornal de Psicanálise, 55(102), 127-147. 2022. Disponível em https://www.bivipsi.org/wp-content/uploads/2022-sbpsp-jornaldepsicanalise-v55-n102-9.pdf. Acesso em 22.07.24.

LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Ed. 34, 2010.

MACHADO, Juremir. Depois do espetáculo (reflexões sobre a tese 4 de Guy Debord. In: GUTFREIND, Cristiane Freitas e MACHADO, Juremir. Guy Debord: antes e depois do Espetáculo. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2007.

LORENZ, Bruno A. e FRANZATO, Carlo. A inteligência artificial e o novo papel do designer na sociedade. em rede. Revista de Design, Tecnologia e Sociedade 33. Brasília, v. 5, n. 1 (2018), p. 1-XX, ISSN 25257471. Disponível em Acesso em 25.07.2024

REGULAMENTO 14º Bienal Brasileira de Design. Disponível em https://www.bienaladg.org.br/regulamento. Acesso em 21.07.24

TURING, Alan. Computing Machinery and Intelligence. Mind, vol. LIX, n. 236, 1950.

 

 

Sobre a autora

Lucia Dias é designer gráfica formada pela FAAP e designer instrucional pela Universidade Federal de Itajubá. Atua como professora universitária desde 1992, lecionando em instituições de São Paulo e Minas Gerais nas áreas de Design, Publicidade e Jornalismo. Especialista em Comunicação em Marketing pela Escola Superior de Propaganda e Marketing, atuou em Agências de Propaganda nas áreas de Criação e Planejamento. Doutora e Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura da Universidade Paulista, desenvolve pesquisas sobre Espetacularização e Celebritização nos meios de Comunicação. Estuda diversos temas culturais contemporâneos. É Pesquisadora do Grupo Mídia, Cultura e Memória da Universidade Paulista e Universidade Complutense de Madri. Atualmente é professora na Universidade de Taubaté nos Cursos de Design Gráfico, Produção Audiovisual, Publicidade, Jornalismo e Mídias Sociais, além de atuar como pesquisadora no Mestrado em Educação da mesma Universidade. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/5229626812080078

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