Divulgação científica do papel da Amazônia nas Mudanças Climáticas Globais
- Yan Bertone
- 24 de abr.
- 3 min de leitura
Por Yan Bertone
Escrever sobre a divulgação do papel da Amazônia nas mudanças climáticas globais me faz revisitar o trabalho importante de popularizar o conhecimento científico de uma pesquisa impactante como essa.

Eu cresci ouvindo sobre a Amazônia em diferentes contextos e acredito que frases como “a floresta que é o pulmão do mundo” e “devemos preservar a Amazônia” também foram ouvidas, ou mesmo ditas, por você em certo momento.
Não restam dúvidas quanto à necessidade de preservação florestal, bem como a importância da Amazônia para as mudanças climáticas globais. Entretanto, ao dar início na divulgação da pesquisa sobre a emissão dos gases de efeito estufa por parte dessa floresta, foi que percebi a necessidade de aprender ainda mais sobre o assunto.
O ano era 2020 e, em meio a um estopim pandêmico, no auge do negacionismo científico e do corte de verbas para muitas pesquisas por parte do governo atuante na época, surge a oportunidade de falar sobre as mudanças climáticas ligadas à Amazônia e como regiões dela se tornaram emissoras de carbono devido ao desmatamento e queimadas.
O Laboratório de Gases de Efeito Estufa (LaGEE) é um laboratório do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Liderado pela Dra. Luciana Gatti, os pesquisadores realizam coletas de gases de efeito estufa em diferentes regiões da floresta amazônica com uma tecnologia, importada pela doutora, do National Oceanic and Atmospheric Administration/Earth System Research Laboratories/Global Monitoring Division (NOAA/ESRL/GMD).

Em diferentes períodos do ano ocorrem coletas de dados por aviões, que fazem um trajeto em espiral em diferentes alturas, de cima para baixo, de maneira a captar os gases de efeito estufa e depois analisá-los em laboratório. Dentre os locais de coleta, destacam-se Alta Floresta, MT (ALF), Rio Branco, AC (RBA), Santarém, PA (SAN) e Tabatinga/ Tefé, AM (TAB_TEF).

Em 2021, o grupo de pesquisadores publicou uma pesquisa que mostra que o desmatamento florestal e as queimadas afetam a condição da Floresta Amazônica de absorver gás carbônico da atmosfera. Os resultados da pesquisa vêm de dados coletados durante nove anos nas regiões citadas acima e mostram que quanto maior o desmatamento florestal, menor a capacidade da Amazônia de absorver o gás.
Além disso, o estudo mostra que a Amazônia representa uma fonte de carbono para a atmosfera, devido principalmente às queimadas. O balanço de carbono da Amazônia Sul-americana (7.25 milhões de km2) determinado no período de 2010 a 2018 do estudo foi de 1,06 milhões de toneladas de gás carbônico lançados para a atmosfera por ano, e da Amazônia Brasileira (4.2 milhões de km2) foi de 0,87 milhões de toneladas de CO2 (gás carbônico) por ano. As emissões por queimadas, neste período, representaram uma emissão de 1,51 milhões de toneladas de CO2 para a atmosfera (Amazônia Sul-Americana), e de 1,06 milhões de toneladas de CO2 por ano, pela Amazônia Brasileira.
Tamanha a importância e impacto do estudo, fez-se necessário a criação de um site próprio para o Laboratório de Gases de Efeito Estufa, além de redes sociais, como ferramentas de divulgação científica do trabalho dos pesquisadores do laboratório.
Em todo o processo, devo ressaltar a disponibilidade e atenção da Dra. Luciana Gatti com orientações, entrevistas e garra para combater o apagão científico vinculado a fake news e debates sobre o papel da Amazônia nas mudanças climáticas globais.
Conclui-se, portanto, que a pesquisa vinculada ao projeto de divulgação científica impacta e dialoga com o meio acadêmico em que ela se insere. No entanto, o trabalho de divulgá-la foi de grande importância tanto no processo de estruturação de uma linguagem mais acessível ao público de fora da área das ciências da natureza quanto para a visibilidade do estudo e conscientização da sociedade. Afinal de contas, fazer e divulgar ciência é um ato de resistência.
Referências e materiais consultados
ALBAGLI, S. Divulgação científica: informação científica para a cidadania. Ci. Inf., Brasília, v. 25, n. 3, p. 396-404, set./dez. 1996.
GATTI, L.V., BASSO, L.S., MILLER, J.B. et al. Amazonia as a carbon source linked to deforestation and climate change. Nature n. 595, p. 388–393. 2021. Disponível em: https://doi.org/10.1038/s41586-021-03629-6.
ZANVETTOR, Kátia; CALDAS, Graça. Divulgação científica e interdisciplinaridade. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO, 39., 2016, São Paulo. Anais. São Paulo: Intercom, 2016.
Laboratório de Gases de Efeito Estufa. INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS ESPACIAIS. Disponível em: https://www.ccst.inpe.br/lagee/
The Guardian. Floresta amazônica agora emite mais CO2 do que absorve. Disponível em: https://www.theguardian.com/environment/2021/jul/14/amazon-rainforest-now-emitting-more-co2-than-it-absorbs
Sobre a autor

Graduado em Jornalismo pela Universidade do Vale do Paraíba, pesquisador e Mestre em Linguística Aplicada pela Universidade de Taubaté (UNITAU). Tem experiência na área de Comunicação atuando principalmente nos seguintes temas: gênero, educomunicação, notícia, divulgação científica e jornalismo científico. Atualmente trabalha com abordagens ativas e tecnologias aplicadas ao ensino de linguagens.
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