Metodologia na construção de Branding com propósito e uma marca visualmente acessível
- Marcos Fernandes
- 14 de mai.
- 4 min de leitura
Por Marcos Fernandes
A construção de um branding com propósito pode ser facilmente comparada à figura de um iceberg. Por meio dessa metáfora — e da aplicação prática de teorias e métodos no dia a dia de um estúdio de design — conseguimos definir uma metodologia eficaz para pequenos, médios ou micro empreendimentos.

Toda a atenção ao negócio e a imersão na gestão desses empreendimentos são fundamentais, pois é justamente nesses contextos que muitas empresas operam de forma não estratégica, enfrentando a montanha-russa dos altos e baixos típicos de marcas sem propósito ou estratégias bem definidas.

Essa metodologia, que atualmente chamo de ESTÚDIO, foi desenvolvida por mim ao longo de 10 anos de imersão na construção de marcas. Ela é dividida em três etapas:
1. Estratégia de Marca
Essa etapa começa com diversas entrevistas bem estruturadas e a coleta de briefing com os empreendedores, usuários e compradores da marca. O objetivo central é compreender como está a percepção final do cliente — o que chamamos de etapa final do funil, pois são esses clientes que precisam de fato consumir a marca. Após essa imersão inicial, realizamos um benchmark essencial, pois é com base nas entrevistas e nas pesquisas que conseguimos identificar os pontos fortes e fracos da marca. Essa é uma fase totalmente estratégica, fundamentada no nicho de mercado do cliente e na percepção atual da marca. Como resultado, entregamos um diagnóstico de marca, que serve como base para as tomadas de decisão e direcionamentos criativos. Até esse ponto, ainda não estamos falando de criação, muito menos de design — estamos falando de pesquisa.
2. Identidade de Marca
Dentro dessa etapa, seguimos mais de 10 passos para transformar a marca em algo bem posicionado e acessível. Com base nas decisões estratégicas tomadas anteriormente, definimos pontos importantes como o posicionamento da marca diante de temas políticos e sociais, linguagem verbal, conceito ou reconstrução de marca, ajustes no público-alvo e personas, plataformas necessárias para o uso da marca, missão, visão, valores — entre outros.
Agora, imagine um iceberg. Sabe toda aquela parte submersa, invisível a olho nu? Podemos chamá-la de estratégias e posicionamentos — pois ela representa tudo aquilo que não possui ainda um ponto de contato visual com o público.
A parte visível do iceberg — aquela que está acima da linha d’água — representa os pontos de contato visual da marca. Ou seja, dentro de uma estratégia, é essa porção que será vista e percebida pelo público. É aqui que entra o design acessível, atuando na construção de marcas com imagens fortes e bem posicionadas.
Quando falamos de acessibilidade, não estamos falando de custo. Estamos falando sobre alcance — até onde o design consegue chegar quando é aplicado de forma consciente, inclusiva e sem excluir grupos. Historicamente, o acesso à arte e ao design esteve restrito às elites. Na antiguidade, eram apenas as classes mais altas que consumiam e interagiam com esse tipo de material.
Hoje, nosso papel como designers, especialmente após todas as pesquisas e diagnósticos prévios a um projeto, é justamente o oposto: incluir. De maneira simples, direta e potente, nosso objetivo é criar uma imagem que gere conexão e senso de comunidade com o público.
Fazemos isso por meio de elementos visuais bem construídos, objetivos e carregados de significado — que contem a história da marca sem precisar dizer muito.
3. Gestão de Marca
Criar uma marca com propósito, estratégias bem definidas e um design alinhado é essencial — mas não suficiente. A verdadeira força de uma marca está na sua gestão contínua. Afinal, não adianta apenas criar: é preciso viver a marca diariamente.
Nesta etapa, entramos na prática da gestão estratégica da marca. Isso envolve desde o alinhamento constante da comunicação em todas as plataformas até a adaptação a novos contextos, comportamentos do público e mudanças no mercado. Aqui, trabalhamos com a manutenção do posicionamento definido, a consistência das mensagens, o acompanhamento de métricas e a atualização de estratégias conforme necessário. Também é o momento de nutrir a cultura da marca internamente, envolvendo colaboradores, parceiros e lideranças — para que todos saibam o que essa marca representa e como ela deve ser vivida no dia a dia.
Gerir uma marca é garantir que ela permaneça coerente, relevante e conectada com as pessoas. É nesse ponto que o iceberg começa a se mover — silenciosamente, mas com impacto profundo.
Criar uma marca com propósito não é só sobre estética. É sobre intenção. É sobre olhar para além do que se vê — mergulhar fundo nas camadas invisíveis, estratégicas e humanas que sustentam uma imagem forte.
É sobre transformar negócios em marcas que respiram verdade, pertencimento e impacto. E isso só acontece quando se entende que branding não é um ponto de chegada — é um processo vivo. É sobre viver a marca.
Referências e materiais consultados:
CAMEIRA, Sandra Ribeiro. Branding + design: a estratégia na criação de identidades de marca. São Paulo: Blucher, 2011.
COLLINS, Jim; LAZIER, Bill. BE 2.0 – Beyond entrepreneurship 2.0: turning your business into an enduring great company. [S.l.]: Portfolio/Penguin, 2020.
COUTO, Ana. A (R)evolução do branding. São Paulo: Companhia das Letras, 2021.
RUBIN, Rick. O ato criativo: uma forma de ser. São Paulo: Intrínseca, 2023.
Sobre o autor

Marcos Fernandes é formado em Comunicação Social em Publicidade e Propaganda pela UNITAU em 2014, pós graduado em UX/UI pela USP em 2019, especialista em Branding. Fundador e Diretor Criativo no ESTÚDIO DESIGN&CO com a sede em Taubaté desde 2018. Combinar estratégia e design para criar marcas fortes e culturalmente relevantes e acessibilidade do Design para todos. Já atuou com clientes como BASF, Suvinil, Fundação Espaço ECO, BALL Corporation, MAPFRE, Grupo Freudenberg, Vibracoustic, Schutz e Adidas.
Ótimo artigo! A metodologia proposta para construir um branding com propósito e acessível visualmente é essencial, e eu adorei a ênfase na acessibilidade visual que é um ponto muito negligenciado, mas que faz toda a diferença.👏