Por um Design mais científico
- Luiz Guilherme de Brito Arduino

- 21 de mai.
- 4 min de leitura
Por Luiz Guilherme de Brito Arduino
Com certeza você já viu diversos posts nas mídias sociais com fórmulas prontas para fazer com que o seu material gráfico seja mais atrativo, se comunique melhor com o público e venda seu produto ou serviço. Devemos confiar nesse tipo de conteúdo?

Quanto mais as técnicas experimentais de mercado passarem por um processo de cientificidade, ou seja, estudo sobre os métodos aplicados por meio da avaliação feita por pesquisadores especialistas da área em comparação com o que as bibliografias da dizem, mais próximo de um conteúdo de qualidade ele será.
Por detrás das técnicas aplicadas no mercado, há um conjunto de estudos que se resultam na prática profissional (ou deveria ter pelo menos). Por exemplo, Design não é só fazer uma composição de cores para ficar bonito esteticamente. É preciso entender quais são os significados dessas cores e o que elas comunicam seja sozinha ou em conjunto com outros elementos composicionais, tais como a imagem, a tipografia, entre outros. Porém, onde buscar informações como essas? Nas bases científicas!
Evite basear a sua prática em conteúdos que não possuem fontes ou que possuem o discurso que vai conseguir vender ou obter seus resultados de forma instantânea. A construção de um design funcional e estratégico não é assim, é necessário estudar e refletir muito para entregar uma peça consistente e que alcance os resultados esperados.
Uma recomendação importante para um bom profissional é basear a sua prática em pesquisas e leituras sobre os assuntos que estão relacionadas com a sua área de atuação. Vamos para um exemplo prático: no caso de um estudo de cores para um material gráfico, você pode considerar alguns livros para pensar em quais cores utilizar, o impacto de cada uma delas atendendo seu objetivo de comunicação visual.

Ok, mas um site de Design não pode divulgar conteúdo? Pode! E isso acontece. O que falta, muitas das vezes, é a divulgação de um conteúdo com base em pesquisas científicas, tais como artigos publicados em livros e periódicos, os quais passam por um processo acadêmico rigoroso, com uma avaliação feita por outros pesquisadores e docentes. Essas publicações servem como uma relevante fonte de informação para a prática profissional.
Um fator que acredito que contribui muito para a falta da cientificidade dos profissionais da área é o próprio mercado. Muitas das vezes, o tempo para criar um projeto gráfico é muito limitado, não permitindo ao designer fazer um trabalho mais profundo de pesquisa de informação e de referências visuais, ficando refém muita das vezes da sua experiência em fazer experimentações gráficas e resultar em uma produção esteticamente agradável.

Para muitas pessoas, o Design é considerado ainda como uma área muito subjetiva e com proporções científicas menores enquanto comparada às ciências da natureza, humanas e exatas. Em oposição a essa perspectiva, compreende-se que ciência do design é tão importante quanto por ser uma área que abarca diversas subáreas, tais como design gráfico, design digital, design da informação, design de embalagens, design de interiores, design de games, design de moda, design de produto, e design de animação. Além das suas especificidades, a área do Design dialoga e contribui para soluções de forma interdisciplinar com outras áreas, como a Engenharia de Produtos, Arquitetura, a Publicidade, entre outras. Nesse sentido, há uma necessidade de reforçar a sua importância para todos, inclusive para comunidade científica.
Assim, é importante comentar sobre a existência de um conceito muito importante sobre a “ciência do design” criado por Nigel Cross (2001), pesquisador e professor de design na The Open University. Esse conceito está relacionado ao estudo dos princípios, das práticas e dos procedimentos de design. Para Cross (2001), o estudo do design relaciona-se com a metodologia de design que estuda como os designers trabalham e pensam e como são estabelecidas estruturas apropriadas para o processo de criação em design, bem como o desenvolvimento e a aplicação de novos métodos, técnicas e procedimentos. O estudo do design trata-se, portanto, de uma atividade científica, ou seja, o design como atividade que pode ser objeto de uma investigação científica.
A partir de tais considerações, ainda que breve, este portal Design (cons)ciência tem como propósito fazer essa ponte, ser um intermediador de conteúdos científicos para designers e para aqueles que se interessam pela área, divulgando ciência, combatendo a desinformação e reforçando a área do Design, posicionando-a como uma área de extrema relevância e que tem seu espaço no conhecimento científico.
Referências bibliográficas e materiais consultados
ARDUINO, Luiz Guilherme de Brito. Design & Informação: como utilizar as redes sociais para divulgar informações de qualidade? Palestra ministrada online em 08/05/2023, no âmbito da Semana de Arquitetura e Urbanismo & Design Ânima 2023.
CROSS, Nigel. Designerly Ways of Knowing: Design Discipline Versus Design Science. Design Issues: Vol17, N 3, Massachusetts Institute of Technology, 2001. Disponível em: <https://www.jstor.org/stable/1511801>. Acesso em: 20 nov. 2023.
PINHEIRO, Bárbara C. Soares; OLIVEIRA, Roberto D. V. Lima de. Divulgação...de qual ciência? Diálogos com epistemologias emergentes. In: ROCHA, Marcelo B; OLIVEIRA, Roberto D. V. Lima de. Divulgação Científica: Textos e Contextos. São Paulo: Editora Livraria da Física, 2019.
Sobre o autor

Doutor em Design pela Universidade Anhembi Morumbi (UAM), mestre em Linguística Aplicada pela Universidade de Taubaté (UNITAU), especialista em Comunicação, Semiótica e Linguagens Visuais pelo Centro Universitário Braz Cubas e graduado em Publicidade e Propaganda pela Universidade de Taubaté (UNITAU). É professor e pesquisador na Universidade de Taubaté (UNITAU). Tem passagem por agências, instituições de ensino, atuando na área da docência e gestão de design, comunicação e marketing. É um pesquisador multidisciplinar atuando nas seguintes áreas: Design e Linguagem Gráfica; Design e Sociedade; Gestão de Marcas; Criação de conteúdo para as Mídias Sociais; Narrativa Transmídia; Desinformação na era digital; Divulgação Científica; Ficção seriada; Análise Dialógica do Discurso (ADD) e Estudos Críticos do Discurso (ECD). Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/6997590117371265




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